terça-feira, 10 de agosto de 2010

A Via Cardíaca - Papus



Conheço um homem simples que nunca leu um livro e que, no entanto, consegue resolver problemas científicos complexos mais facilmente que os famosos cientistas.”
Existem pessoas humildes, sem qualificações académicas ou experiência médica a quem o céu é tão acessível que a seu pedido os doentes são curados e ao seu contacto os ímpios, sentem nos seus corações uma fusão de amor e de bondade.
Joana d’Arc nunca tinha lido um tratado sobre estratégia, nem visto um campo de batalha, mas mesmo assim conseguiu derrotar à primeira tentativa os maiores estrategas do seu tempo! Como pôde isto acontecer? É muito simples: Ela entregou-se completamente à vontade divina e não pôs em causa o Invisível como teria feito um adepto do plano intelectual.
Devemo-nos questionar seguidamente, acerca da forma perplexa como os críticos olham para essas criaturas animadas pela “luz viva do Pai”, que conhecemos geralmente por quietistas ou místicos? Eles (os adeptos do plano intelectual) não conseguem entende-los, pois tentam avaliar talentos universais à luz limitada dos seus próprios cérebros. Como não conseguem compreende-los, os críticos insultam e deitam ao desprezo o místico, enquanto este reza pelo seu crítico opressor continuando o seu trabalho de amor.
A via do desenvolvimento espiritual é simples e rectilínea: “vive sempre para os outros e nunca para ti mesmo”; “ Faz bem aos outros em todos os níveis”; “Não fales ou penses mal dos que estão ausentes”; “Faz o que é difícil antes de fazeres o que é fácil”;
Estas são algumas fórmulas do caminho místico que leva à humildade e à oração.
Existe uma forma de purificação física muito cara ao coração dos adeptos do plano intelectual: o vegetarianismo que diminui a atracção do físico. Mas esta purificação não significa nada se não se purificar o corpo astral do egoísmo, e o espírito da vaidade; Algo cem vezes mais prejudicial que o impulso embebido de comer carne.
Por que se deveria dar alguma coisa ao homem que pensando que sabe alguma coisa se coloca em pé de igualdade com os deuses, para trabalhar no alcance da sua salvação pessoal, isolando-se numa torre de marfim, a fim de se purificar?
Ele acha que ele tem o que é necessário e olha para si mesmo como alguém que na sua pureza conhece todas as pessoas. Mas quando um homem é simples e consciente da sua fraqueza, sabe que a sua vontade é de pouca importância se não estiver de acordo com as acções do Pai Celestial. Quando ele não se preocupa com a sua pureza individual, nem com suas necessidades, mas com o sofrimento dos outros, os céus reconhecem-no como uma das suas “criancinhas” e Cristo pede que ele seja conduzido até Ele.
Uma mãe que tenha trabalhado toda a vida crias não só as suas crianças, mas também aquelas das pessoas mais pobres que ela, é maior perante o Eterno que os pedantes teólogos e os que se apelidam de adeptos, orgulhos de sua pureza. Esta é uma verdade instintiva que atinge as pessoas sem qualquer necessidade de demonstração, pois é uma verdade que se aplica a todos os níveis.
Portanto, deixai que o aluno almeje a simplicidade e não o pedantismo e advirtam-no acerca dos homens que se consideram perfeitos, pois: “quanto mais alto é o edifício, mais alta é a queda”.
A via mística exige assim ajudas incessantes em todas as fases de evolução e de percepção. No plano físico, s ajuda de amigos e mestres que ensinem pelo exemplo; no plano astral, a ajuda dos pensamentos de devoção e caridade, verdadeiras luzes que iluminam o caminho e que ajudam cada um a suportar as provas através da paz do coração. No plano espiritual, a ajuda dos Espíritos Guardiães, fortalecidos por pensamentos de piedade junto dos pecadores e de indulgencia perante as fraquezas humanas, e das orações por todos os que desejam permanecer cegos e por todos os voluntariosos inimigos. Então a sombra terrestre vai desaparecendo lentamente, o véu é levantada por um momento e uma sensação Divina enche o coração de coragem e amor ao saber que as orações foram ouvidas.
Tendo atingido este ponto, o místico não compreende a necessidade das chamadas sociedades de estudos – mesmo os que se dedicam ao ocultismo – nem a necessidade de muitos livros pouco necessários para explicar as coisas tão simples. Desconfia das sociedades e dos livros numerosos e acaba por se retirar em comunhão com os abandonados e atormentados. Ele pára de ler para agir, ele ora, ele perdoa e deixa de ter tempo para julgar e criticar.
O intelectual, observando este homem, questiona, antes de mais através de que livros ele conseguiu atingir esta fase, em seguida a que tradição ele pertence por fim em que categoria deveria ser colocado para melhor… o julgar!
Ele procura a “palavra mágica” que o místico usa para curar quase todas as doenças malignas, que forma de hipnose lhe permitiria influenciar a mente dos outros dessa forma, mesmo a longa distância somente pelo propósito egoísta que está por trás de tudo. Como o intelectual não encontra nos livros uma resposta para essas questões e necessita de uma explicação que lhe dê paz de espírito, ele afirma seriamente a si e ao circulo de admiradores que o rodeia “Possessão” ou “Misticismo” ou “Simples Sugestão”… e tudo está dito! O intelectual vai tornando-se um pouco mais vaidoso; e o místico um pouco mais humilde.
Enquanto para estudar, ler e ter tempo são necessidades para progredir no plano intelectual, nada disto é necessário para progredir no plano místico. Tudo o que ele tem como fundamento pode ser dito numa hora de tempo terrestre como o forma para Swedemborg no primeiro dia das suas visões tal como para Jacob Boehme. Ou talvez sejam necessários 10 ou 19 anos antes da entrada ser descoberta, como foi o caso de Willermoz e de muitos outros ocultistas. A razão para tal é o pórtico para esta via não é aberto pelo que procura, mas pelos guias invisíveis e pelo esforço do seu ser espiritual.
Não existe portanto nada mais fácil nem nada mais difícil do que seguir este caminho. É somente aberto a todos os homens de boa vontade sendo que nenhuns outros são merecedores dele!
A porta é tão baixa que somente as criancinhas conseguem entrar. Como aqueles que vão até à porta são muitas vezes homens altivos e orgulhosos que julgam indigno o acto de se tornarem pequenos, a entrada permanece invisível durante muito tempo para eles.

Papus
(Texto retirado do site: www.ihshi.com)

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