domingo, 5 de setembro de 2010

Princípios Gerais da Teosofia – Parte III de W. Q. Judge



O homem espiritual, que sempre existiu e que está intimamente implicado na evolução, está submetido à lei da causa e efeito, de tal modo que ele mesmo é a consequência da lei. A presença no homem, que nos aparece neste plano como depositário de uma força de carácter distintiva, de capacidades e oportunidades na vida muito diferentes de indivíduo para indivíduo, deve ser explicada, bem como a razão para a existência dessas diferenças.
A doutrina da reencarnação permite compreender tais problemas. Essa doutrina pode traduzir-se do seguinte modo: o homem, considerado como pensador, composto de alma, mental e espírito, ocupa corpos sucessivos, vida após vida sobre a Terra que é o cenário da sua evolução e onde deve, obedecendo às leis do seu ser, chegar ao objectivo dessa evolução. Em cada uma das suas vidas, ele é conhecido dos outros homens pelos traços de uma determinada personalidade. Mas, na imensidão da eternidade, ele é na realidade um indivíduo único, que tem em si mesmo o sentimento de uma identidade, independentemente de um nome, de uma forma ou da sua memória sobre si mesmo.
A doutrina da reencarnação está na base da Teosofia, pois explica a vida e a natureza. A reencarnação constitui um aspecto da evolução, uma vez que significa “reincorporação”, e como a evolução não podia prosseguir sem a reincorporação, ela é então a própria evolução quando aplicada à alma humana. Essa doutrina era conhecida à época em que situamos a vida de Jesus e foi ensinada durante os primeiros tempos do Cristianismo. Ainda hoje a sua compreensão é tão necessária a essa religião como a tantas outras para poder explicar os textos, conciliar a justiça de Deus com o aspecto brutal e implacável da natureza e da vida para um grande número de mortais. Pode lançar uma luz perceptível sobre a razão de todos os problemas que nos atormentam nas nossas viagens através deste mundo.
A diferença imensa – e injusta, se adoptamos qualquer outra doutrina – que existe entre o selvagem e o homem civilizado, do ponto de vista das suas capacidades, carácter e oportunidades da sua existência, não podem ser compreendidas senão através dessa doutrina. Mesmo na nossa sociedade, diferenças do mesmo género não podem ser explicadas de outro modo. A reencarnação reabilita a Natureza e Deus e purifica a religião da corrupção a que se agarraram homens que postularam crenças em que se retratava o Criador como um demónio.
A vida corrente e o carácter de cada homem são o resultado da sua vida e dos seus pensamentos anteriores. Cada Ser é o seu próprio juiz, cada um o seu verdadeiro tribunal, pois está na mão de cada um forjar a arma que servirá à sua punição. Cada um, pela sua própria vida, ganha a recompensa e eleva-se a novos cumes de conhecimento e de poder em benefício de todos aqueles que o sucedam. Ninguém é deixado ao abandono, ou favorecido de modo parcial. Tudo é colocado e acontece de acordo com a lei e a ela submetido.
O homem é um pensador e pelos seus pensamentos cria as causas que produzirão felicidade ou mal-estar; pois são os seus pensamentos que produzem os seus actos. Ele é o centro de onde provém toda a perturbação à harmonia universal e é a ele, o centro da perturbação, que esta deve regressar de modo a restabelecer o equilíbrio, pois a natureza opera sempre em direcção à harmonia.
O homem persegue sem cessar uma cadeia de pensamentos que remontam ao longínquo passado e que produzem continuamente acção e reacção. Ele é assim responsável por todos os pensamentos e por todos os seus actos. Essa responsabilidade é total. O seu próprio espírito é a essência dessa lei e conduz sem cessar à compensação que convém a toda a perturbação, assegurando um perfeito ajuste de todos os efeitos. Assim é a lei do karma ou da justiça, algumas vezes designada como “lei ética da causalidade”.
Essa lei não é estranha às Escrituras cristãs, pois tanto Jesus como São Paulo a enunciaram claramente. Jesus disse que seremos julgados do mesmo modo que julgarmos e que seremos medidos com a mesma medida com que medimos os outros. São Paulo disse: “Irmãos, não vos enganeis, não se escarnece a Deus, pois tudo o que o homem semeia, tudo colherá.”(Gálatas 6:7)
O que dizer da morte e do outro lado? O céu é ou não um lugar? A Teosofia ensina, em conformidade com todos os textos sagrados, que após a morte, a alma fica em estado de repouso. Isto advém da sua própria natureza. A alma é pensadora e durante a vida ela não consegue realizar e executar toda a miríade de pensamentos que alimenta. Não realiza nem mesmo uma ínfima parte desses pensamentos. Igualmente, após a morte, logo que ela tenha largado o corpo físico e o corpo astral e que se encontre livre da prisão das paixões e dos desejos, as suas forças naturais exprimem-se imediatamente e ela concebe pensamentos sobre o seu próprio plano, vestida de um corpo de uma textura mais fina que as precedentes, conveniente a esse estado de existência. Esse estado é designado por “devachan”. É esse o estado que está na origem das descrições do céu comuns a todas as religiões. Mas esta doutrina é ainda mais claramente expressa no budismo e no hinduísmo. O estado devachanico é um período de repouso, pois, estando ausente o corpo físico, a consciência não se encontra mais presa dessa relação estreita que tem com a natureza visível como ocorre quando está incarnada no plano material. É um estado real e não mais ilusório do que a existência sobre a Terra. É lá que a essência dos pensamentos e da vida correspondem àquilo que havia de mais elevado relativamente às possibilidades características do indivíduo, que se expandem e armazenam através da alma e do mental. Assim que a força que anima esses pensamentos se esgota completamente, a alma é mais uma vez conduzida para a Terra, de encontro a um ambiente que corresponda suficientemente à sua natureza, para lhe permitir prosseguir convenientemente a sua evolução.
Essa passagem através de estados sucessivos é contínua até que o homem, pela repetição de experiências, se liberte da ignorância e realize nele mesmo a unidade efectiva de todos os seres espirituais. Assim ele acede a graus mais elevados e mais universais, no caminho da Evolução.
A Teosofia não apresenta uma ética nova, já que para ela a verdadeira ética é a mesma de sempre. Mas na doutrina da Teosofia, encontramos as bases racionais e filosóficas da ética e da sua natural colocação em prática. A Fraternidade Universal será realizada quando agirmos com os outros do mesmo modo como exigimos que ajam connosco e quando amarmos ao próximo como a nós mesmos. Essa é a via que devemos seguir, como ensinam todos os instrutores das grandes religiões do mundo.

W. Q. Judge
(fonte: www.ihshi.com)

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