P - De onde vens?
R - Não sei.
P - Onde vais?
R - Não me disseram (sei).
P - O que sabes?
R - O que esperei (Nada).
P - Que vês?
R - Sou cego.
P - Que vestes?
R - Estou nu.
P - Que tens?
R - Só a mim.
P - O que queres?
R - Ver a luz.
P - Que luz?
R - A que houver.
P - Qual é a que houver?
R - A que me for dada.
P - Se te a derem, como a verás?
R - Com meus olhos.
P - Se te a não derem, como a verás?
R - Com o meu coração.
P - Se te a nem derem nem não derem, como a verás?
R - Comigo [?]
P - Que tens ao pescoço?
R - O passado.
P - Que sentes sobre o peito?
R - O futuro.
P - Que tens que te a teus pés olha?
R - O presente.
P - Que sentes?
R - A treva, o frio, e o perigo.
P - Como os vencerás?
R - À treva pelo dia, ao frio pelo sol, ao perigo pela vida.
P - E como obterás o dia e o sol e a vida?
R - Não ficando cego, nem nu nem eu aqui sozinho.
P - Quem te criou?
R - Não sei.
P - Porque o não sabes?
R - Porque nasci.
P - Queres sabê-lo?
R - Sim, porque morrerei.
[Mestre do Átrio] - Basta que me digas sim.
O N[eófito] - Sim.
M[estre do] Á[trio] - A paz seja contigo.
Os nn. retomam as espadas. O SL toma na mão direita a esquerda do Neófito e […]
- Tenho [?].
Fernando Pessoa
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