terça-feira, 5 de julho de 2011



«[...] eu estava caminhando por uma pequena estrada, atravessava um terreno ondulado; o sol brilhava e tinha diante dos meus olhos, por toda a minha volta, um vasto panorama. Depois cheguei perto de uma capelinha, à margem do caminho. A porta estava entreaberta e eu entrei. Para minha grande surpresa, não havia ali nem estátua da Virgem Maria nem crucifixo sobre o altar, mas simplesmente um arranjo floral magnífico. Diante do altar, no chão, voltado para mim, vi um iogue em posição de lótus, profundamente interiorizado. Observando mais de perto, vi que ele tinha o meu rosto. Fiquei chocado e com medo e acordei a pensar: "Fogo! Aí está alguém que medita sobre mim. Ele tem um sonho e esse sonho sou eu". Sabia que quando ele acordasse, eu não existiria mais. Tive este sonho após a minha doença em 1944. Trata-se de uma parábola: o meu Eu entra em meditação, por assim dizer, como um iogue e medita na minha forma terrena. Poder-se-ia também dizer: o Si-mesmo toma a forma humana para vir para a existência tridimensional, como qualquer pessoa veste uma roupa de mergulho para se atirar no mar. O Si-mesmo, renunciando à existência do outro lado assume uma atitude religiosa, como indica também a capela na imagem do sonho; na sua forma terrena, ele pode experimentar o mundo tridimensional e, por uma consciência ampliada, avançar na direcção da sua realização [...] da perspectiva do "outro lado que existe em nós", a nossa existência inconsciente é a existência real, e o nosso mundo consciente é uma espécie de ilusão ou uma realidade aparente fabricada com vistas a um determinado fim, semelhante a um sonho que também parece ser a realidade enquanto estamos mergulhados nele.»


Carl Gustav Jung
in "Ma vie - Souvenirs, rêves et pensées"

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