quinta-feira, 15 de julho de 2010


P - Em que crês?
R - Sou cego.
P - Quem és?
R - Sou nu.
P - O que tens?
R - Só a mim.
P - Queres ser recebido nesta ordem para nela teres a luz?
R - Quero, se m’a mostrarem.
P - Q[ueres ser recebido nesta ordem] para dela teres a veste?
R - Quero, se m'a vestirem.
P -[Queres ser recebido nesta ordem] para nela teres guarida?
R - Quero, se ela me for dada.

P - Companheiros do Átrio, o neófito é cego, nu e pobre.

R1 - Dê-se-lhe a luz, porque sabe que é cego.
R2 - Dê-se-lhe a veste, pois que sabe que é nu.
R3 - Dê-se-lhe guarida, pois que sabe que é pobre.
R4 - Dê-se-[lhe] tudo porque sabe que é nada.
P - Porque disseste que eras cego, se não eras cego?
R - Sou cego para depois ver.
P - Porque pensaste que eras nu, senão estás nu?
R - Porque estou nu para ser vestido.
P - Porque disseste que eras pobre (...)
 

(Mão sobre o coração)


Juro pela minha alma e vida e por tudo quanto, embora eu o não saiba, contenham ou possam vir a conter, que não desvendarei nenhum segredo d'esta ordem, e que o não farei por palavra dita ou palavra escrita, por palavra directa ou translata, nem o dizendo, nem o indicando, nem o fazendo presumir.


Fernando Pessoa

Sem comentários:

Enviar um comentário